domingo, 18 de dezembro de 2011

Ateísmo 2.0: por que as religiões ainda triunfam?

Religião para ateus: leitura rápida, agradável e extremamente informativa.
Por que os ateus acreditam que expor a irracionalidade e os perigos da religião em blogs e livros deveria levar as pessoas a abandonar a religião e abraçar a racionalidade? Por que nem um milhão de blogs e livros e nem uma improvável conversão do Papa ao ateísmo seria capaz de acabar com o fenômeno religião ou fé no sobrenatural, fé no Salvador, misticismo, esoterismo, espiritismo, espiritualismo ou qualquer outro nome que se dê ao fenômeno para tentar disfarçá-lo?
Alain de Botton nos dá uma resposta certeira:
"Podemos então reconhecer que inventamos as religiões para servirem a duas necessidades centrais, que existem até hoje e que a sociedade secular não foi capaz de resolver por meio de nenhuma habilidade especial: primeiro, a necessidade de viver juntos em comunidades e em harmonia apesar dos nossos impulsos egoístas e violentos profundamente enraizados E, segundo, a necessidade de lidar com aterrorizantes graus de dor, que surgem da nossa vulnerabilidade ao fracasso profissional, a relacionamentos problemáticos, à morte de entes queridos e a nossa decadência e morte. Deus pode estar morto, mas as questões urgentes que nos impulsionaram a inventá-lo ainda nos sensibilizam e exigem resoluções..."

Um livro que toda pessoa interessada nas relações entre religião e ciência e o futuro da religião deveria ler: Religião para Ateus, do filósofo Alain de Botton. Um livro pequeno, direto, simples e extremamente inteligente. E além disso, barato.

Leia uma excelente entrevista dele aqui.

Abaixo, alguns trechos do livro.

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"A pergunta mais enfadonha e inútil que se pode fazer sobre qualquer religião é se ela é ou não verdadeira - no sentido de ter vindo dos céus ao som de trombetas e de ser governada sobrenaturalmente por profetas e seres celestiais.

Para poupar tempo, e sob o risco de uma dolorosa perda de leitores já no início, vamos afirmar de forma franca que obviamente nenhuma religião é verdadeira num sentido concedida-por-Deus. Este livro é um livro para pessoas incapazes de acreditar em milagres, espíritos ou histórias de sarça ardente, e que não têm qualquer interesse maior nos feitos de homens e mulheres incomuns, como a santa do século XIII Inês de Montepulciano, que diziam ser capaz de levitar meio metro enquanto rezava e de ressuscitar crianças - e que, no fim da vida (supostamente), ascendeu aos céus do sul da Toscana nas costas de um anjo.

Tentar provar a não existência de Deus pode ser uma atividade divertida para ateus. Críticos pragmáticos da religião encontraram grande satisfação no desnudamento da idiotia de crentes com cruel minúcia, parando somente após sentirem ter revelado seus inimigos como absolutos tolos ou maníacos.

Embora esse exercício tenha suas recompensas, a real questão não é se Deus existe ou não, mas para onde levar a discussão ao se concluir que ele evidentemente não existe. (...)

É quando paramos de acreditar que as religiões foram outorgadas do alto ou que são totalmente insanas que as coisas ficam mais interessantes. Podemos então reconhecer que inventamos as religiões para servirem a duas necessidades centrais, que existem até hoje e que a sociedade secular não foi capaz de resolver por meio de nenhuma habilidade especial: primeiro, a necessidade de viver juntos em comunidades e em harmonia apesar dos nossos impulsos egoístas e violentos profundamente enraizados E, segundo, a necessidade de lidar com aterrorizantes graus de dor, que surgem da nossa vulnerabilidade ao fracasso profissional, a relacionamentos problemáticos, à morte de entes queridos e a nossa decadência e morte. Deus pode estar morto, mas as questões urgentes que nos impulsionaram a inventá-lo ainda nos sensibilizam e exigem resoluções que não desaparecem quando somos instados a perceber algumas imprecisões científicas na narrativa sobre o milagre da multiplicação dos pães e peixes.

Eu cresci num lar obstinademente ateu, como filho de dois judeus seculares que colocavam a crença religiosa num nível similar ao da existência do Papai Noel. Lembro-me do meu pai levando minha irmã às lágrimas numa tentativa de fazê-la abandonar a noção modestamente sustentada de que um deus recluso poderia viver em alguma parte do universo. Ela tinha 8 anos na época. Se meus pais descobriam que algum membro do seu círculo social nutria sentimentos religiosos clandestinos, eles passavam a destinar-lhe o tipo de piedade normalmente reservada àqueles diagnosticados com uma doença degenerativa e nunca mais seriam persuadidos a considerar aquela pessoa seriamente.”

2 comentários:

  1. Certa vez, um ateu disse a um amigo, que gostava de ouvir certo pregador da bíblia.

    o amigo retrucou:porque você vai ouvir esse pregador, se não acredita em Deus?

    O ateu respondeu: Mas ele acredita!!

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  2. Pondé: o problema não é virar ateu, mas sim o que você acreditará depois de se tornar um.

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