terça-feira, 15 de novembro de 2011

Um guia para a boa vida: a antiga arte da alegria estóica

Um guia para a boa vida: a antiga arte da alegria estóica 

Resenha do livro "A Guide to the Good Life: The Ancient Art of Stoic Joy" escrita por Daniel Markham publicada originalmente em inglês no site Hacker Books.

"Várias vezes durante a leitura fiquei espantado com a visão que os estóicos tiveram. Muitas vezes eu disse a mim mesmo: 'Se eu tivesse lido isso quando eu era adolescente! Quão melhor minha vida teria sido. Quão melhor eu teria tratado tal e tal situação'. Estou feliz em dizer que amei a descrição do autor do estoicismo como o 'Zen Budismo para pessoas analíticas', que descreve o fato de que o estoicismo não é uma religião, apenas um conjunto de ferramentas para levar uma vida melhor.
Estudiosos medievais cristãos foram confrontados com um dilema: suas crenças religiosas exigiam que eles acreditassem que a alma é salva por um relacionamento com Jesus, mas pelos antigos escritos greco-romanos recém descobertos parecia óbvio que existiram grandes homens, honrados e virtuosos, que viveram muitos séculos antes de Jesus ter nascido. Como poderiam essas pessoas de alto calibre terem vivido assim apesar de acreditarem em coisas tão diferentes?

Em um interessante hack religioso, os teólogos decidiram que tais pessoas foram "naturalmente salvas", isto é, observando e vivendo na natureza de uma forma nobre e perspicaz, eles alcançaram o objetivo principal da salvação (pelo menos naquilo com que os cristãos se preocupavam).

Esta é uma realização cultural significativa - - ter uma filosofia de vida e visão de mundo completamente diferente endossando uma maneira nova e estranha de viver -- e isso nunca foi reproduzido da mesma maneira desde então. Quando os escritores gregos e romanos foram descobertos (ou talvez "relembrados"), eles mudaram completamente a face da civilização ocidental. Tudo que você vê ao seu redor é moldado por isso: a cidade moderna, nosso modo de vida cosmopolita, o valor da virtude e do raciocínio.

Ler sobre esses cristãos, me deixou com um duplo problema: como pode o simples fato de estudar os antigos causar um tal profundo impacto sobre as pessoas? E isso não foi só com os cristãos medievais. Em todos os lugares em que eu li, pessoas famosas que estudaram os gregos e romanos descobriram que isso alterou profundamente suas vidas. O que foi que fez de George Washington uma pessoa humilde, mesmo que fosse para todos os efeitos, um novo rei? Quais são os valores que Benjamin Franklin e Thomas Jefferson tinham que me faltam? Catão era um famoso exemplo disso. Ele era conhecido como um "verdadeiro romano", um romano que cultivou o espírito do império. Ao longo dos séculos muitas pessoas aparecem com ideias sobre por que Roma caiu, mas muitos que viveram naquela época sentiam que quanto mais os romanos se afastavam dos valores de Catão, mais o império estava condenado.

Sou um hacker de corpo e mente. Sempre considerei que mexer com a maneira como meu corpo e mente funcionam é um esforço para tornar minha vida melhor: mais produtivo, perspicaz, mais alegre, mais tranquilo. Para mim, hackear sua mente e corpo tem um resultado muito mais benéfico do que simplesmente hackear alguma tecnologia. A tecnologia muda, mas você está preso ao seu corpo e sua mente. Em busca desse objetivo eu absorvi um monte de coisas.. Mas de tudo quanto li, palestras e vídeos a que assisti, obras técnicas que li, nunca fui capaz de descobrir exatamente como o estudo da vida dos gregos e romanos poderia ter um efeito transformador sobre a vida de alguém. Suas idéias, com certeza, eram estupendamente incríveis, mas isso seria capaz de produzir mudança na vida pessoal? Eu simplesmente não entendia.

Até agora.

Eu também sou meio viciado em livros e comentários na internet. Adoro ouvir as pessoas recomendando livros uns aos outros. Então, quando li os comentários de um um casal no HackerNews falando sobre o livro “A Guide to the Good Life: The Ancient Art of Stoic Joy ("Um guia para a vida boa: a antiga arte da alegria estóica"), sobre o impacto tremendo que este livro estava trazendo em suas vidas, percebi imediatamente que eu tinha que pegar esse livro e lê-lo. Isso até eu contar a ideia com meus amigos.

"Ah, com certeza", um tirador de sarro, disse sarcasticamente, "nada soa tão ‘alegre’ quanto estoicismo, certo?"

Ai.

Outro foi mais claro.

"Se os estóicos tiveram ideias tão grandes, por que todos eles se acabaram?

Ambas são boas questões e o autor teria que endereçar a elas boas respostas se o livro valesse a pena o dinheiro que paguei.

O livro caiu em minhas mãos em uma quarta-feira e consumi um par de dias nele. Uma das primeiras coisas que aprendi foi que a palavra "estóico" mudou de significado ao longo dos séculos: o que nós pensamos como estoicismo tem pouco a ver com o que os romanos pensavam desta palavra. Nós pensamos no estoicismo como algo brando, chato, sem resposta. Os romanos tinham várias escolas de filosofia e o estoicismo era apenas mais uma maneira de conduzir a própria vida.

Hoje, se você perguntar a um filósofo como levar uma vida boa, é provável que você entre em uma discussão longa e chata sobre linguística e o significado da linguagem. Naquela época, os romanos compreenderam que a filosofia estava envolvida com as grandes questões. Se você me perguntasse, eu diria que em algum momento do passado os filósofos perderam o objetivo de seus empregos.

Várias vezes durante a leitura fiquei espantado com a visão que os estóicos tiveram. Muitas vezes eu disse a mim mesmo: "Se eu tivesse lido isso quando eu era adolescente! Quão melhor minha vida teria sido. Quão melhor eu teria tratado tal e tal situação". Irvine [o autor] conseguiu não só responder minhas indagações originais, como também forneceu um vislumbre de qual era a grande questão.

Eu não vou entrar em muitos detalhes -- eu não sou um especialista e não quero turvar o pouco das águas que absorvi. Estou feliz em dizer que amei a descrição do autor do estoicismo como o "Zen Budismo para pessoas analíticas", que descreve o fato de que o estoicismo não é uma religião, apenas um conjunto de ferramentas para levar uma vida melhor. Ele também descreve a finalidade do estoicismo: ter uma vida alegre, feliz, cheia de diversão através da aprendizagem da arte de viver.
Sou um crente convicto de que há vários assuntos que são críticos para o funcionamento de uma sociedade moderna que não são ensinados às crianças: economia, cálculo, estatística, escrita criativa, vida empresarial, negociação e agora eu adiciono a essa lista o estoicismo.

Será que o livro vai ter esse enorme impacto na minha vida? Eu não sei. Tenho minhas dúvidas. Aos 45 anos, provavelmente é muito difícil mudar de rumo. Ao longo dos anos eu li um monte de livros para me levantar e tenho sido animado com o meu quinhão deles. Como parte dessa experiência, eu me tornei uma pessoa muito cínica e estou sempre à procura de modismos. Acho que para uma mudança tão grandiosa tão tarde na vida seria necessário um instrutor e um monte de tempo. Mas, quem sabe? Estou aguardando ansiosamente para integrar as práticas estóicas que estou aprendendo ao meu estilo de vida. Como muitas coisas, os conceitos parecem bastante fáceis, só que colocá-los em prática pode ser realmente muito difícil. Refaça essa pergunta para mim daqui a dez anos. Talvez eu tenha uma resposta melhor.

Mas a melhor, a mais impressionante parte deste livro, sem sombra de dúvida, consistiu em ler a excitante e clara descrição que William Irvine constrói para nos fornecer um vislumbre do que seria um romano “verdadeiro”. Ele realmente acha que Catão realmente entendia o que significava ser um estóico. Eu ganhei um enorme insight sobre a forma como essas pessoas viviam -- e não apenas suas idéias -- e como o que eles aprenderam pode ser de impacto imediato para mim hoje, agora. Quero aprender mais.

Durante a década passada, estive trabalhando duro em minha pilha de crenças. Existencialismo, agnosticismo fundamentalista e agora o estoicismo. Acho que o estoicismo se encaixa muito bem aos outros dois, dando-lhes vivacidade que, sozinhos, não possuem.

Grande história, grandes ideias, grandes insights sobre a melhor forma de viver e uma agradável leitura Como não gostar disso?

Livro: A Guide to the Good Life: The Ancient Art of Stoic Joy
Autor: William B. Irvine
Ano: 2008
Preço: R$48,00
Onde comprar: Amazon, Livraria Cultura etc.

2 comentários:

  1. Oi, tudo bem?
    Eu primeiro gostaria de recomendar o livro que estou aos poucos lendo, sobre o generalismo, um conceito que vai mudar toda nossa sociedade!
    O nome do livro é: "Sua vida é uma porcaria. E a culpa é minha". Nacional e bem novo.
    Não vou entrar em detalhes, mas pelo índice da para ter uma prévia... depois de ver a primeira parte e como ele evolui o conceito da torre de Maslow (acrescentando Manfred Max-Nee), com uma definição de motivação e razão muito nítida. Eu Recomendo mesmo!

    Agora gostaria de saber melhor sobre o que aborda o estoicismo, é um conceito sobre como ser feliz de forma independente? quero dizer que tipo de mudanças ele propõem?

    ResponderExcluir
  2. Adorei, cara. Você me deixou com vontade de lê-lo. Recomendo "o homem que nasceu póstumo" do Mário Ferreira dos Santos, dois volumes incríveis.

    ResponderExcluir