domingo, 25 de setembro de 2011

Folha de São Paulo: Cérebro humano tem viés religioso 'de fábrica'


Trecho de artigo interessante publicado na Folha, ligando a religiosidade a perfis cognitivos. De um lado, os ateus ultralógicos se aproximam do espectro autista e é desse campo que sai um bom número de grandes físicos e engenheiros. Por sua vez, os ultrarreligiosos (capazes de ver e falar com espíritos) se aproximam da esquizofrenia. Mentes diferentes habitando universos completamente diferentes.

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22/09/2011 - 05h30

Análise: Cérebro humano tem viés religioso 'de fábrica'

HÉLIO SCHWARTSMA
ARTICULISTA DA FOLHA


"Nos últimos 20 anos, psicólogos, neurocientistas, filósofos e sociólogos se puseram esquadrinhar e teorizar sobre a religião, dando origem à nova ciência da fé. A ideia central é que, independentemente do fato de Deus existir ou não, a religião é um fenômeno real, mensurável e com a qual podemos fazer experimentos.

É claro que nada nessa área é muito consensual, mas dessas duas décadas de pesquisas emergiram algumas linhas de explicação que são relativamente bem aceitas. Ao que tudo indica, o cérebro humano vem de fábrica com uma série de vieses cognitivos que tornam a religião um subproduto natural.

Destacam-se aí nossa tendência para reconhecer padrões (indispensável para perceber regularidades) e para detectar agência (muito útil na identificação de presas e predadores). Acrescente-se a isso nossa propensão a inferir estados mentais alheios (essencial para a vida em sociedade) e temos a receita para criar deuses.

De acordo com Michael Shermer, num cálculo aproximado, ao longo dos últimos dez mil anos a humanidade produziu dez mil religiões com cerca de mil deuses.

É claro que as coisas ficam bem mais complicadas quando descemos aos detalhes.

(...)

Esse tipo de fenômeno é mais bem descrito como um gradiente cujos extremos são patológicos. A psicóloga Catherine Caldwell-Harris, por exemplo, liga o estilo cognitivo ultralógico de ateus à síndrome de Asperger, uma forma de autismo que produz um bom número de engenheiros e físicos.

Na outra ponta, Andrea Kuszewski sugere um vínculo entre esquizofrenia e religiosidade. Seguir as intuições reconhecendo padrões e agência mesmo onde não existem é que leva uma pessoa a conversar de igual para igual com uma geladeira ou a discutir com Deus."

Um comentário:

  1. Um lado análogo a "engenheiros e físicos", outro a "loucos", isso pareceu tendencioso. O ateísmo é descrença na existência de deuses e o teísmo seria a crença, somente, em deus(es). A correlação está no materialismo cético ("ateísmo") e ao mítico emocional ("teísmo"), a inteligência emocional, intuitiva e de concentração dos estados psicológicos interiores dos religiosos são mais desenvolvidos, ao contrário dos materialistas céticos que tendem a ser mais lógicos e científicos, tendo mais discernimento do que é físico e real e do que seria imaginário. Creio que o religioso não tenha muita capacidade de discernir isso.

    Pois bem, há, porém, ateus com uma inteligência mística incrível, sendo poetas, artistas ou filósofos sublimes, posso citar um, o Nietzsche. Kant também não era lá um grande crente e foi muito profundo e lógico. Newton foi um deísta gnóstico (mexia muito com coisas exotéricas). Afinal, há burrice na religiosidade? Não! O que é a burrice? Incapacidade de discernir o real do ilusório e a incapacidade de criar; basicamente inteligência é a capacidade de ver as verdades da realidade universal e utilizá-las a seu favor (ou a favor de outro) para criar novas coisas, abstratas ou concretas, e expandir a cosmovisão de si mesmo e dos outros, gerando conhecimento e perspectivas para as gerações futuras e para si mesmo.

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