sábado, 19 de março de 2011

O ano em que o homem se tornará imortal e diferença entre transhumanistas e singularitarianos


2045: O ano em que o homem se tornará imortal

"Há espaço dentro do singularitarianismo para considerável diversidade de opinião sobre o que significa a Singularidade, quando e como ela vai ou não acontecer. Mas singularitarianos compartilham uma visão de mundo. Eles pensam em termos de tempo profundo, eles acreditam no poder da tecnologia de moldar a história, eles têm pouco interesse na sabedoria convencional sobre qualquer coisa, e eles não  acreditam que você pode andar por aí e levar sua vida normalmente, assistindo TV, como se uma revolução de inteligência artificial não estivesse prestes a entrar em erupção e mudar absolutamente tudo. Eles não têm medo de soar ridículos, a aversão do cidadão comum por ideias aparentemente absurdas é, para eles, apenas um exemplo de preconceito irracional e singularitarianos não barganham com a irracionalidade. Quando você entra no espaço mental deles, você experimenta um gradiente extremo de visão de mundo, uma rígida tesoura  ontológica que separa os singularitarianos do lugar comum do restante da humanidade. Espere turbulência."

Diferença entre transhumanistas e singularitarianos
Depois de arriscar a tradução do trecho acima, seria interessante tentar traçar a diferença entre transhumanismo e singularitarianismo (ou a diferença entre transhumanistas e singularitarianos). 
Eu diria que transhumanismo e singularitarianismo são dois círculos com uma grande área de interseção e quase concêntricos: na prática, estamos falando das mesmas pessoas, todo singularitariano é um transhumanista e os transhumanistas costumam levar em conta a singularidade. Mas nem sempre é assim: há transhumanistas que não endossam a ideia da singularidade e são céticos quanto à ela. Se não me falha a memória, há uma palestra do filósofo Max More em que ele fala que as expectativas em cima do progresso exponencial são exageradas. Da mesma forma, Nick Bostrom em um artigo sobre a superinteligência (considerada como risco existencial para a humanidade), encara a ocorrência da singularidade em termos de probabilidades distribuídas (visão que compartilho). Após um cuidadoso levantamento de evidências, ele, se não me falha a memória, estimava em 50% a chance de desenvolvimento de uma superinteligência até a década de 2030 (o ano não é exatamente este, o artigo dele é de 1993). Estes, são transhumanistas que não endossam a ideia da singualidade, e, portanto, apenas "transhumanistas".

Mas penso que será difícil encontrar o contrário: um singularitariano que não se defina como transhumanista, a não ser por uma questão de gosto terminológico. Kurzweil, o maior propagador do ideario e vocabulário singularitariano (ou singularitário), diz que compartilha as ideias transhumanistas, mas que não gosta do termo "transhumanismo" por transmitir a impressão de que se trata de "transcender a humanidade, ir além da humanidade", quando, para ele, ser humano é exatamente e naturalmente transcender condições (não concordo com este argumento porque a transcendência e suas consequências aqui estão em uma escala totalmente diferente e sem precedentes). Ele e seus simpatizantes preferem, portanto, o termo "singularitariano" a "transhumanista".

Além desta distinção, uma outra talvez se aplique aos transhumanistas e singularitarianos. De minha parte, tenho visto que filósofos transhumanistas (como David Pearce, Max More e Nick Bostrom) são mais cautelosos em suas previsões, mais enfáticos quanto dificuldades técnicas no meio do caminho e, portanto, mais céticos. Por outro lado, cientistas da computação, como Raymond Kurzweil e Ben Goertzel são mais ousados quanto ao "timing" e dificuldade para a ocorrência de certos eventos, como este crucial, o do surgimento de uma superinteligência (Kurzweil, alega que seus críticos subestimam o progresso exponencial da tecnologia e do conhecimento). Alguns comportamentos e tendências deste segundo grupo alimentam a piada de que "a singularidade é o arrebatamento dos nerds" ou de que se trata de mais uma religião e superstição. Mas, ao contrário do que essa crítica (que é parcial e seletiva) indica, o movimento transhumanista internamente também está bem servido de espírito crítico.

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